Escolhemos a Arte

Escolhemos a Arte, pois este tema nos causou dúvidas durante a prática pedagógica, em nossa graduação vimos que a Arte é muito importante e tem uma metodologia de trabalho a ser seguida, explora diversas questões, têm objetivos e conteúdos específicos a serem trabalhados, mas que na prática em sala de aula não é assim que vem acontecendo, as pessoas resumem a Arte a técnicas artísticas, cópias e reproduções, dizendo estarem trabalhando com Artes.
Buscamos nos orientar através de leituras de alguns autores como Anamélia Bueno Buoro, Kandinsky, Deheinzelin, além dos cadernos de estudo que embasaram nossa graduação.
O nosso objetivo com esse trabalho é proporcionar uma percepção das Artes como parte integrante do currículo, sendo um conteúdo vivo, dinâmico, que possibilita a ampliação do repertório cultural, visual e criativo dos alunos, dentre outros tantos eixos que a Arte nos trás.


PANORAMA HISTÓRICO
1980
Fundamentação da práxis - Cadernos de atendimentos ao pré-escolar (1982), criados pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC.
- Pouco priorizavam o conhecimento, centrando-se apenas nas questões emocionais, afetivas e psicológicas e nas etapas evolutivas da criança. Com relação à arte na educação.
- Os pressupostos eram muito mais voltados à recreação do que as articulações com a Arte, a cultura e a estética. Como exemplo, é possível citar a ênfase em exercícios bidimensionais que priorizava desenhos e pinturas chapadas, ou seja, os conceitos sobre a arte resumiam-se a simples técnicas.
1990
Fundamentação da práxis - Caderno do professor da pré-escola
- Tentativa de abordagem contextualista, qual a arte deixa de ser tratada apenas como atividade prática de lazer , incorporando o ato reflexivo. Apesar dessas transformações, a arte permanecia ainda com foco em abordagens psicológicas e temáticas. A arte na educação infantil nesta década ainda buscava uma consistência teórica, conceitual e metodológica.
1995/2000
Fundamentação da Práxis? Caderno do Professor da Pré-escola.
As discussões reflexivas sobre a arte na educação infantil ganham novos espaços na literatura , nas propostas curricular e especialmente na área da pesquisa. Discutiu-se com maior ênfase propostas metodológicas com base no tripé: História da Arte, Apreciação e Produção.
2000
Abandono da chamada "Livre expressão" para a utilização do tripé.
Curvatura da Vara.
Segundo esta Teoria citada por Saviani , quando uma vara está torta, não basta colocá-la na posição correta para endireitá-la. É preciso curvá-la para o lado oposto. Esta foi à defesa enunciada por Lênin para se defender quando foi criticado por assumir posições extremistas e radicais.
2009
A vara está voltando para o lugar...
Como historicamente pode se observar, a Arte na Educação Infantil possuía um perfil de recreação e de desenvolvimento emotivo e motor. Hoje a Arte na Educação Infantil está em processo de rupturas e transformações, exigindo das políticas educacionais, dos cursos de formação de professores, especialmente das licenciaturas em Arte, um comprometimento com os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais.
É importante que todos os profissionais que atuam com o ensino da Arte, façam uma reflexão não somente dos processos de sala de aula, mas também de seu papel como cidadãos, protagonistas de uma história.
Prática das artes visuais na sala de aula
O trabalho com artes visuais deve ser explorado desde o desenho, passando pelo recorte e colagem, pintura até a escultura, deve-se partir das duas dimensões, para depois fazer com que a criança perceba as três dimensões.
O que é importante deixar claro, é que trabalhar com Artes Plásticas não é meramente explorar técnicas artísticas, e sim explorar os diversos aspectos que a envolvem, desde sua interpretação à análise de cores, formas, intenções, enfim, tudo que Arte trás junto consigo.
Outra questão que é importante ser registrada, é que não basta o professor rodear os alunos de materiais e deixar com que ajam sobre os mesmos, o professor deve incentivar, criar situações que façam com que eles usem a Arte, se expressem realmente, do contrário, não haverá atividade artística e sim terá um professor observando alunos interagirem com materiais.
O tripé da Arte inicia falando sobre o trabalho com a história da Arte, pois se faz necessário mostrar aos educandos que a Arte tem uma história, uma conotação social, que a mesma passou por diversas fases tendo um contexto histórico.
A história da Arte é tão antiga como o início da civilização, pois temos registros dos homens das cavernas imortalizando os desenhos, as façanhas dos primeiros humanos e animais que povoavam aquela época, todo este contexto se faz necessário ser abordado par que os alunos compreendam o significado da Arte na história e sociedade.
Os produtores em Arte também devem ser trabalhados para que os alunos percebam e valorizem a história de vida e obra dos artistas, entendam as fases da vida e a relação com as obras. Imagine só ao estudar Cândido Portinari, saberem as curiosidades da vida deste renomado artista, como uma passagem de sua vida, onde teve de dormir em uma banheira, por motivos financeiros. Ou saber o motivo por que Van Gogh, cortou o lóbulo da orelha., ou por que Volpi tinha uma característica peculiar ao usar em suas obras Bandeirinhas. Segundo Kandinsky, 1990, p.27:
"Toda a Obra de Arte é filha de seu tempo, e muitas vezes, mãe de nossos sentimentos. Cada época de uma civilização cria uma Arte que lhe é própria e que jamais se verá renascer".
A apreciação trabalha os materiais utilizados, combinações, formas, estruturas, enfim, o que compõem a obra em si, suas peculiaridades e técnicas utilizadas, mas ainda exige do apreciador sensibilidade para tentar entender o que o artista quis representar ou dar a idéia, mas esta sensibilidade vai ser desenvolvida a partir do contato com a Arte, não podemos exigir de uma criança que nunca teve contato com a Arte uma percepção elaborada do que o artista quis representar, Abigail Housen nos explica isto, nos cinco níveis de desenvolvimento estético:
Narrativo: neste nível os indivíduos descrevem narrando - utilizando seus sentidos e suas associações pessoais, fazem observações concretas sobre as obras de Arte, de maneira que ficam entretidos na narração. Neste nível seus juízos se baseiam no que conhecem e no que gostam. As emoções animam seus comentários a medida que penetram a obra de Arte, e essa se torna parte de um drama recém descoberto? o drama criado no processo de reflexão.
Construtivo: neste nível os indivíduos criam um marco para observar as obras de Arte, usando as mais lógicas e acessíveis e lógicas ferramentas que tem ao seu alcance: suas próprias percepções, o conhecimento do mundo natural, social e cultural que lhes cercam. Se a obra não é como se supõem que deveria ser? se a habilidade, a técnica, a dificuldade, a utilidade e a função não são evidentes - se a árvore é alaranjada em vez de marrom, se uma representação feminina se transpõem em guerra de sexos? então o indivíduo julga a obra como rara. Parece que há falta de valor. Conforme os indivíduos vão deixando suas emoções brotarem, começam a distanciar-se da obra e a demonstrar interesse pelas intenções do artista.
Classificatório: neste nível os indivíduos adotam a atitude crítica e analítica do historiador da arte. Querem identificar a obra com o lugar, escola, estilo, época e origem. Decifram a imagem através de indícios, usando específicos conhecimentos de fatos e datas. O significado e a mensagem da obra podem explicar-se e racionalizar-se pela sua categorização correta.
Interpretativo: neste nível os indivíduos buscam um encontro pessoal com a obra de arte. Explorando a imagem, desejando que o sentido da obra se descubra lentamente, apreciam as silhuetas da linha, da forma e da cor. Neste nível a habilidade critica se põe a serviço dos sentimentos e das intuições, na medida em que estes indivíduos deixem que o significado da obra? seus símbolos? emerjam.
Cada novo encontro com uma obra apresenta a oportunidade de estabelecer novas comparações, percepções, experiências. Sabendo que a identidade e o valor dependem de interpretações, estes indivíduos veem que suas próprias ideias a respeito de uma obra de arte são suscetíveis a mudanças de acordo com as circunstâncias.
Re - criativo: neste nível os indivíduos, depois de terem tido uma longa relação pessoal com a Arte através de anos de observação e reflexão, suspendem a incredulidade voluntariamente. Uma pintura conhecida é como um velho amigo - intimamente conhecido, mas ainda cheio de surpresas - algo que precisa de atenção diária e profunda. Conhecedores da ecologia da obra - seu tempo, história, questionamentos, complexidades - constroem sua própria história com a obra em particular e com a observação em geral, o que lhes permite combinar uma contemplação mais pessoal com a outra que em geral, de maneira ampla toma o compasso de inquietudes universais. Neste nível a memória infunde a vida da obra, combinando intrincadamente o pessoal com o universal.
Segundo Olga de Sá na apresentação do livro "O Olhar em construção ? Uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola" de Anamélia Bueno Buoro:
"A criança aproxima-se do objeto estético, comunica-se com ele, reflete sobre sua relação com as outras pessoas e com o mundo. Existe prazer nesta relação. As atividades prazerosas, em Arte, levam-na a enfrentar problemas e buscar soluções."
Para trabalhar a produção de arte temos que ter como alicerce, que a Arte é expressão e não imitação. Realizar uma releitura não implica copiar o que o artista produziu e sim interpretar e conseguir assimilar suas ideias, mas mesmo assim conseguir colocar sua própria percepção.
Neste trabalho com a produção é necessário explorar os objetivos procedimentais desta área como organização do ambiente, seleção do material, zelo no manuseio e manutenção dos materiais a serem utilizados. Os objetivos atitudinais como a cooperação nas produções individuais e coletivas, respeito e cuidado pelos trabalhos dos seus pares. Nos objetivos conceituais trabalha-se toda a técnica, formas e estruturas da obra.
A Arte deve ser dinâmica, pode-se utilizar diversos suportes como folhas, cartolinas, cartões, telas, materiais recicláveis, tecidos, enfim, há uma gama de suportes para a Arte, basta o professor usar de sua criatividade e com certeza abrira um leque de situações artísticas para seus alunos.
Segundo Deheinzelin no livro "A Fome com a Vontade de comer", pg. 134, o material para as Artes plásticas de um modo ou de outro:
"... pode ser providenciado. Contando para isso com a imaginação do professor, este poderá peneirar terras de diferentes tonalidades, mistura-la com água, obtendo assim,tintas de cores belíssimas; poderá macerar folha, pétalas de flores, frutinha, misturar com água e coar a mistura obtendo tintas delicadas como as aquarelas; poderá utilizar pedacinhos de carvão como instrumentos para desenhar e assim por diante."
CONCLUSÃO
Refletindo, percebemos que a Arte é um conteúdo importante para o desenvolvimento cultural dos alunos, além de ter objetivos e conteúdos claros: criação/produção, percepção/análise e conhecimento da produção artístico estética da humanidade.
Com nossa graduação podemos entrar em conflito cognitivo contrastando a prática pedagógica vigente e as ideias e práticas corrente sobre a Arte, por isso nos valeu o estudo , fazendo que tenhamos percebido a Arte como um conteúdo traze-la para nosso cotidiano escolar permitindo novas descobertas, emoções, pensamentos e despertando a sensibilidade, sendo através das próprias produções das crianças ou através da apreciação das obras de outros artistas.


REFERÊNCIAS
BUORO, Anamélia Bueno. O Olhar em Construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. São Paulo: Cortez, 2001.
DEHEINZELIN, Monique. A Fome com a Vontade de Comer. Petrópolis: Vozes, 1994.
KANDINSKY, W. Do Espiritual na Arte. Trad. Álvaro Cabral e Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
Autor: Paola Menezes Fagundes e Simone Pereira da Costa
Data: 30/04/2010